Lean Startup é uma abordagem científica para lançar uma startup, com base em dados e feedbacks de usuários que orientam e aceleram o desenvolvimento iterativo do produto.
Segundo uma pesquisa da Harvard Business School, 75% de todas as startups fracassam. Um dos principais motivos desta estatística nada promissora é o modelo de gestão dessas startups.
Neste sentido, uma das metodologias que mais tem impactado positivamente novas startups e recentemente as empresas mais tradicionais é o Lean Startup (ou Startup Enxuta, na tradução para português).
Este conceito chegou para substituir a tradicional, antiga e ineficaz abordagem para o lançamento de novos produtos e negócios.
Mas o que é a “abordagem tradicional”?
Me refiro ao velho processo que muitos empreendedores, infelizmente, ainda adotam, no qual passa pela elaboração de um plano de negócios (ou business case) contendo detalhes e previsões de resultados de 4 ou 5 anos.
O que acontece é que esse “plano” precisa de alguma aprovação para arrecadar fundos e inicia-se então o desenvolvimento do produto. Após meses e meses de desenvolvimento sem coleta de feedbacks, o produto é então entregue ao mercado, e adivinha!? Ninguém quer usá-lo.
Já a metodologia Lean Startup começa identificando um modelo de negócios através de testes de hipóteses e feedbacks contínuos com os clientes, iterando e adaptando seu produto ao longo do tempo.
Desta forma, Lean Startup é uma abordagem extremamente eficaz para reduzir riscos de desperdício de dinheiro, tempo, evitando construir algo que ninguém vai usar.
Continue lendo e saiba saiba de onde veio e como adotar esta metodologia.
Quais as Diferenças Entre Lean Startup e o Modelo Tradicional de Negócios?
Vale dizer que o modelo tradicional de negócios nem sempre é o ideal, já que existem muitas variáveis entre empresas e startups. Então, entenda melhor as diferenças e o que usar!
Problema conhecido, solução conhecida
Eu me formei em Ciências da Computação no ano 2000. Confesso que tenho saudades daquela época na UNESP de Rio Claro/SP.
Naquela época, uma das coisas que aprendi (sim, já estou ficando velho) é que o processo de desenvolvimento de um produto deve seguir os passos mostrados pela imagem abaixo:
Este é o famoso processo waterfall (ou cascata), no qual o sucesso significa avançar para as próximas etapas do fluxo descrito. Muitas empresas ainda adotam esta abordagem para o desenvolvimento de seus produtos.
Mas qual o problema desta abordagem?
Bem, dependendo do seu contexto, nenhum! O modelo waterfall funciona bem em situações em que o problema e a solução são bem conhecidos.
Se você vai construir algo muito parecido com o que já foi feito no passado em um ambiente de baixa incerteza, sem problemas.
Porém, quando se trata de desenvolver um novo produto em meio à incerteza e volatilidade, este processo cascata irá garantir que você faça o produto da forma certa, no prazo, dentro do custo e até com qualidade, mas ninguém irá se interessar pelo produto.
Ao observar empresas líderes da manufatura como a Toyota, vemos que eles já abandonaram faz tempo essa abordagem linear e antiga de desenvolver produtos.
Grandes nomes como Taiichi Ohno e Edwards Deming foram responsáveis pelo surgimento da manufatura enxuta (Lean Manufacturing), que serviu como grande inspiração anos depois para os métodos ágeis e para o próprio movimento Lean Startup.
Problema conhecido, solução desconhecida
Para tornar o processo de desenvolvimento de produtos mais eficaz diante de uma crescente incerteza, surgiu o movimento ágil (ou Agile).
Progresso, segundo o Manifesto Ágil, escrito em 2001, é “software funcionando”. Inclusive, um dos princípios do Manifesto Ágil é:
“Software funcionando é a medida primária de progresso.”
A filosofia ágil, muito popularizada por frameworks como XP e Scrum, foi uma contribuição gigantesca para o desenvolvimento de produtos.
Empresas que tinham um problema claro, mas cuja solução é incerta, poderiam então adotar os valores, princípios e práticas ágeis de desenvolvimento de produtos para ter mais sucesso, trabalhando de forma iterativa e incremental.
Problema desconhecido, solução desconhecida
Embora os métodos ágeis tenham de fato revolucionado o mundo de desenvolvimento de produtos, eles pressupõem que existe alguém que consegue responder todas as questões de design e produto para os times se desenvolverem.
Esse “alguém” é comumente encontrado nas empresas nos papéis de Product Owner ou Product Manager.
Acontece que no mundo do empreendedorismo, essa premissa não existe!
Ou seja, não sabemos o que o cliente quer. Podemos, sim, levantar algumas hipóteses para o produto e para o negócio, mas não existem certezas — pelo contrário… O problema é desconhecido e a solução também.
Eric percebeu que a forma como muitas empresas desenvolvem seus produtos está fundamentalmente errada e que grande parte da energia investida em empreendimentos e inovação é um grande desperdício de tempo para muita gente.
Uma das provocações de Eric Ries é que muitas empresas, mesmo adotando metodologias ágeis, demoram 6 meses ou mais para construir um produto e validar junto aos clientes.
Segundo Eric, ficar discutindo backlog, roadmaps, features e bugs, durante 6 meses, é um grande desperdício de tempo das pessoas.
Talvez, tempo e dinheiro não sejam problemas em grandes corporações, mas uma startup existe para identificar rapidamente um negócio que seja sustentável, e não para desperdiçar tempo e dinheiro.
Em meio à complexidade e incerteza, toda a teoria da gestão tradicional do século passado (e que é ainda ensinada em muitos MBAs) não tem mais utilidade.
Para ajudar a endereçar este cenário de startups, nos quais as soluções e problemas são desconhecidos, Eric Ries desenvolveu a metodologia Lean Startup.
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O Que É Lean Startup?
Você pode estar se perguntando qual é a origem da metodologia Lean Startup. O criador deste movimento é Eric Ries, empreendedor do Vale do Silício. Seu livro publicado em 2011, se tornou um grande sucesso no mundo dos negócios.
Após falhar em alguns dos seus próprios empreendimentos, Eric percebeu que havia algo fundamentalmente errado no modelo de gestão de empresas que querem inovar.
Um dos insights de Eric, ao estudar as empresas, foi que os modelos de gestão adotados pela maioria delas pressupõe que os problemas e a solução são ambos conhecidos.
Isto, como expliquei no tópico anterior, está longe de ser verdade para uma empresa que quer lançar um produto novo no mercado!
Além disso, Eric Ries foi fortemente influenciado pelos conceitos de Lean Manufacturing, Customer Development, Métodos Ágeis, Devops e Design Thinking aplicados à inovação e ao empreendedorismo.
Na visão dele, empreendedorismo significa aplicar gestão com aprendizado mensurado. Nesse sentido, é preciso investir energia tentando buscar quais são os clientes certos e descartando os que não interessam, sempre medindo se estamos ou não tendo progresso.
A definição de startup, segunda David Blank é:
Startup: uma organização temporária projetada para buscar um modelo de negócios escalável e repetível.
A frase abaixo é a definição de startup segundo Eric Ries (tradução livre):
Startup: uma instituição humana projetada para criar algo novo em condições de extrema incerteza.
Veja que essas definições não falam nada sobre o tamanho da empresa, setor ou indústria. Dessa forma, se você está operando em um ambiente de incerteza, você está empreendendo.
A filosofia mais importante do Lean Startup é que uma startup por si só é um experimento! Você tem uma hipótese que quer testá-la através de seu experimento.
Nesse sentido, ao invés de construir o melhor produto possível no início, criam-se hipóteses, e para cada uma delas, define-se qual o experimento a ser feito e validado, da forma mais simples, barata e rápida possível.
Na metodologia Lean Startup, esses experimentos são chamados MVP (Minimum Viable Product). No fundo, o Lean Startup sugere que:
- clientes sejam considerados logo no início do processo de desenvolvimento do produto;
- exista processo científico de tomada de decisão, com base em dados;
- a startup foque não na perfeição e qualidade do produto, mas na velocidade de melhoria dele.
Assim, a medida de progresso e sucesso não é mais “software funcionando”, mas aprendizado validado.
Quais os Princípios do Lean Startup?
Os princípios do Lean Startup são: inovação, resiliência, gestão flexível e aprendizagem constante. Abaixo, eu selecionei algumas situações e exemplos para aprofundar mais os princípios.
Empreendedores estão por toda a parte
Veja só o que aconteceu com a pandemia do coronavírus (COVID-19): muitos de nós tivemos que nos adaptar para criar algo novo (um produto ou serviço). Isso para dar sobrevida aos nossos negócios neste contexto de grande incerteza.
É exatamente isso que uma startup faz. Porém, este conceito pode ser aplicado a qualquer empresa, incluindo empreendedores e intraempreendedores das grandes multinacionais que querem inovar mas, muitas vezes, não conseguem, pois seu modelo de gestão não permite.
Empreender é gerenciar
Outra provocação que Eric faz é que o empreendedor deveria ser um cargo nas empresas que desejam inovar. Além disso, empreender requer muita gestão, mas não a gestão do século passado como falamos anteriormente.
É preciso um modelo de gestão ágil, flexível, que permita reações rápidas a mudanças, com base em dados e permitindo que os times façam experimentos dentro de condições aceitáveis de risco.
Aprendizagem validada
Além de ganhar dinheiro e satisfazer clientes, startups existem para aprender a construir um negócio sustentável. É preciso conduzir experimentos, avaliar os resultados e basear todas as decisões futuras em dados relevantes.
Construir - medir - aprender
Para transformar ideias em produtos, avaliar o comportamento dos clientes e corrigir a rota no menor tempo possível, é preciso ter um processo eficaz.
Este processo é o Construir - Medir - Aprender (Build - Measure - Learn, em Inglês).
A imagem abaixo ilustra o processo do Lean Startup. O objetivo é minimizar o tempo para dar uma volta neste loop.
O que muda ao adotar Lean Startup?
A seguir eu resumi as principais diferenças entre a abordagem Lean adotada por startups e a abordagem tradicional de gestão:
Como pensam a estratégia | |
---|---|
Lean Baseado na elaboração de um modelo de negócio inicial e direcionado à hipóteses. | Tradicional Baseado em um plano de negócios direcionado à implementação e conformidade ao plano. |
Qual o processo para novos produtos | |
Lean Baseado em Customer Development. Ir "para a rua" testar as hipóteses. | Tradicional Gestão tradicional de produtos com um processo passo a passo e linear. |
Como reportar financeiro & accounting | |
Lean Uso de métricas que fazem sentido, como CAC, LTV, churn, etc. | Tradicional Contabilidade tradicional, cash flow, etc. |
Como lidam com o erro | |
Lean Erros são esperados e corrigidos aprendendo a cada iteração e pivotando. | Tradicional Erro é exceção e leva a demissões. |
Quais as Vantagens do Lean Startup para Startups?
Simplicidade
Em primeiro lugar, Lean Startup é um modelo simples de compreender e comunicar para todos na organização, indo na contramão da burocracia existente em métodos mais tradicionais.
Sua simplicidade abre espaço para que cada startup utilize as práticas que achar melhor em cada etapa, contanto que busque sempre minimizar o tempo total.
Pensamento crítico
Em segundo lugar, o Lean Startup incentiva o pensamento crítico. Isso ocorre pois a coleta de dados e tomada de decisão com base em dados é um princípio chave.
Crescimento sustentável
Outro ponto importante é que a metodologia ajuda muito a empresa a crescer de forma sustentável e adaptável, construindo uma organização verdadeiramente ágil.
Adaptação
Por fim, a metodologia também ajuda as empresas a terem muito mais facilidade de adaptação. Lembra do exemplo que falei sobre a pandemia da Covid-19? Como vimos, empresas que conseguem se organizar para adaptações sobrevivem aos desafios e, até mesmo, às fortes crises.
Como Adotar a Metodologia Lean Startup em 4 passos?
Mas como implementar a metodologia Lean Startup em uma empresa? Onde começar com a implementação? Confira quais são os quatro passos fundamentais para conseguir ter sucesso com a metodologia:
1) Criar um modelo de negócio
O primeiro passo é criar o seu modelo de negócio. Isso pode ser feito, por exemplo, através do Business Model Canvas.
Uma vez que os empreendedores têm um modelo de negócio inicial e hipóteses baseadas em suposições, o próximo passo é aplicar o loop do Lean Startup, conforme os 3 passos abaixo:
2) Construir o MVP (Build)
Inicialmente, você irá construir seu MVP. Trata-se da versão mínima viável do seu produto que lhe permite obter aprendizado para evoluir. O MVP deve ser validado junto aos clientes/usuários, através de testes.
Vamos pensar no caso de uma startup que vende produtos e serviços bancários, ok?
Pensando no MVP, o primeiro esforço dessa startup pode ser a possibilidade dos clientes abrirem uma conta digital simples, com o básico de funcionalidades (como fazer transferências e guardar o dinheiro na poupança).
Agora, com a evolução dessa versão básica, a startup pode pensar em aprimoramentos para o produto, como funcionalidades personalizadas, mais opções de tipos de investimentos, etc.
3) Medir (Measure)
Em seguida, é preciso medir os dados coletados e transformá-los em insights. Neste passo é importante coletar todos os dados relevantes, principalmente com relação ao comportamento do cliente no seu produto.
3) Aprender (Learn)
O loop termina na etapa de aprendizado, ou seja, aprender sobre as necessidades dos clientes, prosseguir ou pivotar.
Este processo não é trivial e requer muita análise e alguma estatística para apoiar. Esse ciclo se repete e, certamente, ajuda a economizar tempo e dinheiro.
O que é “Pivotar”?
“Pivotar” significa mudar de estratégia sem mudar a visão. Em outras palavras, quer dizer mudar a direção, mas continuar baseado no que aprendemos.
Assim, o que se busca ao empreender com uma startup é reduzir ao máximo o tempo entre os pivoteamentos, aumentando as chances de sucesso antes do dinheiro acabar. E isso isso se faz com aprendizado validado!
Em uma cultura de startup, não queremos celebrar falhas, mas celebrar pivoteamentos que corrigem a rota e fogem da falha. Percebe a questão cultural aqui?!
Você, provavelmente, já usou um GPS para chegar a algum destino. Quando você entra no carro, você não pergunta pro GPS “Para onde vamos?”.
Você configura seu destino e o GPS ajuda a chegar lá, mudando a estratégia se precisar (o caminho).
Por exemplo, o aplicativo Flickr, antes de ganhar popularidade, era um jogo online que possibilita fazer uploads de fotos. Após um tempo sem sucesso, eles focaram somente na parte de upload de fotos e tornaram o produto mundialmente conhecido.
A Paypal, antes de ser a gigante que conhecemos, hoje, era uma empresa de criptografia e segurança da informação para Palm Pilots e outros dispositivos PDA.
São várias as empresas de sucesso que pivotaram para estratégias radicalmente diferentes, mas sem perder sua visão.
Quais são as práticas mais comuns no Lean Startup?
Ao usar a metodologia em pauta, é comum que equipes de trabalho usem as seguintes práticas no dia a dia:
Teste A/B
Você já se perguntou se o botão em seu site que diz "Inscreva-se" receberia mais cliques se dissesse "Começar"? Ou se mudar a cor do seu botão de call to action faria uma diferença significativa nas conversões?
É aqui que entra o teste A/B. O teste A/B é um método de comparação de duas versões diferentes de uma página da web ou de uma campanha para ver qual delas tem o melhor desempenho.
Assim, com o teste A/B, você pode tomar decisões informadas sobre quais alterações fazer para melhorar seu site ou campanha e, por fim, aumentar suas conversões. Quem é profissional da área de marketing costuma usar muito os testes A/B.
Deploy contínuo
Deploy contínuo é uma prática de desenvolvimento de software que permite lançamentos frequentes e consistentes de atualizações de software.
Com essa metodologia, as atualizações são testadas e entregues aos usuários com frequência, reduzindo o risco de erros e permitindo tempos de resposta mais rápidos.
O deploy contínuo, além disso, garante um processo de lançamento de software mais confiável e eficiente, além de permitir uma melhor comunicação e colaboração entre as equipes de desenvolvimento.
Vale dizer que, no cenário digital acelerado de hoje, a capacidade de trazer novos recursos e atualizações para os usuários rapidamente é essencial.
Métricas acionáveis
As métricas acionáveis são cruciais para qualquer empresa que busca tomar decisões baseadas em dados. Essas métricas permitem que as empresas meçam e acompanhem seu progresso em direção a metas e objetivos específicos.
Ao contrário das métricas de vaidade, que simplesmente fornecem um número sem nenhum insight ou contexto real, as métricas acionáveis fornecem informações valiosas que podem ser usadas para informar a estratégia e melhorar o desempenho.
Exemplos de Lean Startup
Confira algumas empresas que já usaram ou ainda usam o Lean Startup:
Toyota;
Uber;
Snapchat;
Nike.
Ford;
dentre outras.
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Conclusão
O papel dos líderes e empreendedores modernos é disponibilizar um ambiente, uma plataforma que permita seus times fazerem experimentos e arriscarem novas ideias.
Para isso, a metodologia Lean Startup é muito poderosa, pois ajuda empresas a decolar com rapidez e sucesso, reduzindo riscos de falhas iniciais.
Cursos de MBA, escolas de negócios e universidades estão incorporando esses conceitos em seus currículos. Grandes empresas como a GE, Qualcomm e Intuit estão aplicando o Lean Startup como método de inovação interna.
E você? O que te impede de aplicar este conceito no seu negócio e no seu produto?