A abertura é o momento mais crítico de uma facilitação.

Em qualquer reunião, workshop ou sessão estratégica, os primeiros minutos são determinantes. É nesse instante que os participantes decidem (consciente ou inconscientemente) se vão se engajar, se vale a pena investir energia ou se será “mais uma reunião que poderia ser um e-mail”.

Para quem facilita sessões de trabalho, como workshops, eventos da gestão ágil ou planejamento estratégico, a abertura é um momento-chave para estabelecer propósito, clareza e conexão. É o espaço onde se cria a atmosfera de segurança psicológica, se comunica o valor daquela sessão e se convida todos a participarem ativamente.

Ignorar essa etapa leva a encontros mornos, superficiais e pouco produtivos. Dominar a arte da abertura, por outro lado, aumenta exponencialmente as chances de conversas mais profundas, decisões mais claras e resultados consistentes.

É aqui que entra a técnica POWER.

O que é a técnica POWER e como ela transforma aberturas

A técnica POWER é um guia simples e poderoso para conduzir aberturas de sessões de forma clara e impactante. A sigla significa:

  • P – Purpose (Propósito)
  • O – Outcomes (Resultados esperados)
  • W – WIIFM (“What’s in it for me?” / O que eu ganho com isso?)
  • E – Engagement (Engajamento)
  • R – Roles & Responsibilities (Papéis e Responsabilidades)

Esse modelo ajuda o facilitador a garantir que ninguém saia do encontro sem saber por que está ali, para onde vamos, o que cada um tem a ganhar, como será a dinâmica e quem faz o quê.

Mais do que organizar uma abertura, o POWER cria intenção e alinhamento desde o início.

P – Propósito: o norte que dá sentido ao encontro

Toda sessão precisa de um “porquê” claro. O propósito é o motivo pelo qual estamos reunidos.
Aqui, o facilitador deve responder perguntas como:

  • Qual é o objetivo maior desta reunião ou workshop?
  • Por que esse grupo de pessoas foi convocado agora?
  • Que desafio ou oportunidade queremos enfrentar juntos?

Exemplo prático:
“Estamos aqui hoje para desenvolver juntos práticas de liderança ágil que nos ajudem a conduzir equipes com mais alinhamento, foco e capacidade de adaptação...”

Quando o propósito é bem comunicado, os participantes entendem que não estão apenas “cumprindo agenda”, mas contribuindo para algo significativo.

O – Outcomes: resultados claros que evitam frustrações

Após o propósito, é essencial deixar claro quais são os entregáveis da sessão. Isso reduz ansiedade, alinha expectativas e aumenta o senso de direção.

Perguntas que ajudam:

  • O que teremos ao final desta reunião?
  • Como saberemos se foi um encontro bem-sucedido?
  • Quais são os produtos concretos da conversa (listas, planos, decisões)?

Exemplo prático:
“Até o fim do dia de hoje, teremos clareza sobre os principais desafios que limitam nossa liderança atalmente e um conjunto de ferramentas que podemos começar a aplicar imediatamente...”

Resultados claros reduzem a sensação de tempo perdido e aumentam a satisfação coletiva.

W – WIIFM: conectando o propósito ao benefício pessoal

WIIFM significa “What’s in it for me?” — em português, “O que eu ganho com isso?”.
Muitas vezes, o problema não está na agenda em si, mas na dificuldade de conectar o propósito ao impacto real para cada pessoa presente.

Aqui, o facilitador ou líder mostra de forma prática por que vale a pena investir energia na sessão.

Exemplo prático:
“Essa oficina vai te ajudar a se tornar um líder mais ágil: alguém capaz de engajar sua equipe, reduzir ruídos nas conversas e acelerar decisões com mais clareza.”

Quando as pessoas percebem benefício direto, passam de observadores passivos para participantes ativos.

E – Engagement: criando energia e segurança psicológica

Depois de propósito, resultados e benefícios, o próximo passo é desenhar como vamos interagir.

O facilitador pode explicar:

  • Quais serão as dinâmicas utilizadas (ex.: post-its, mural, dot voting).
  • Como a participação será estimulada.
  • Regras de convivência (ex.: escuta ativa, não interromper, não apagar ideias dos outros).

Exemplo prático:
“Vamos trabalhar em grupos menores, trocando experiências reais de liderança do dia a dia. Depois, cada grupo vai compartilhar práticas que funcionaram e reflexões sobre como adaptá-las ao nosso contexto.”

Essa etapa reforça que todos têm voz e que o espaço é seguro para experimentar, discordar e cocriar.

R – Roles & Responsibilities: clareza de papéis evita ruídos

Por fim, é essencial esclarecer quem faz o quê durante a sessão.
Isso pode incluir:

  • O papel do facilitador (garantir o processo, não o conteúdo).
  • A função de quem registra decisões.
  • A responsabilidade dos participantes em contribuir.

Exemplo prático:
“Meu papel aqui é facilitar o processo, trazendo provocações e métodos. O papel de vocês é trazer experiências reais de liderança para que possamos aprender coletivamente e cocriar soluções aplicáveis.”

Papéis claros aumentam responsabilidade compartilhada e evitam confusões no meio da sessão.

Por que o POWER funciona: ciência e prática

A força da técnica POWER vem de princípios da andragogia (aprendizagem de adultos) e da psicologia organizacional:

  1. Clareza gera segurança: quando as pessoas sabem para onde estão indo, ficam mais abertas a participar.
  2. Conexão pessoal aumenta engajamento: ao enxergar benefícios diretos, o participante se engaja de verdade.
  3. Regras explícitas criam confiança: ambientes de colaboração precisam de combinados claros para evitar mal-entendidos.
  4. Alinhamento desde o início economiza tempo depois: menos dúvidas, menos retrabalho, mais foco nos resultados.

Na prática, o POWER é um “atalho” para criar um espaço de trabalho coletivo mais produtivo e significativo.

Exemplos de aplicação da técnica POWER em workshops reais

  • Sessões de estratégia: abrir uma reunião de OKR com POWER ajuda a conectar metas ao propósito maior da empresa.
  • Workshops de cultura: ao alinhar outcomes e WIIFM, os participantes entendem como discutir valores e comportamentos os afeta diretamente.
  • Dinâmicas de retrospectiva: trazer clareza de papéis e engajamento evita que apenas alguns falem, garantindo diversidade de vozes.
  • Encontros executivos: deixar claro os outcomes e responsabilidades transforma conversas de alto nível em decisões acionáveis.

Exemplo de abertura de reunião de OKR com o POWER

A seguir, mais um exemplo de uma abertura que utiliza a técnica POWER:

"Bom dia, pessoal. O propósito de estarmos aqui hoje é olhar juntos para o desafio de acelerar o crescimento do nosso e-commerce, aumentando receita, ticket médio e recorrência de compra. Ao final, queremos sair com objetivos claros e resultados-chave priorizados, que orientem nossas frentes de vendas, marketing e operação no próximo trimestre.

Esta oficina é uma oportunidade de influenciar diretamente iniciativas que impactam o crescimento do negócio e a sustentabilidade da empresa, trazendo a experiência e o olhar de cada um de vocês.  Vamos trabalhar em pequenos grupos, registrar as ideias no Mural e depois refinar juntos. A contribuição de todos é essencial para chegarmos em resultados concretos.

Sobre nossos papéis: eu estarei facilitando o processo, mas o conteúdo e as decisões são de vocês. Sintam-se donos deste espaço."

Erros comuns ao abrir uma sessão (e como o POWER evita)

Erro

Consequência

Começar direto no conteúdo sem explicar o propósito

Gera confusão.

Não alinhar expectativas de resultados

Participantes saem frustrados.

Não responder ao WIIFM

Pessoas presentes fisicamente, mas ausentes mentalmente.

Deixar a dinâmica vaga

Silêncio ou dominância de poucos.

Não definir papéis

Reuniões sem dono, sem registro, sem follow-up.


O POWER cobre todas essas lacunas acima de uma forma simples e estruturada.

Dicas práticas para facilitadores aplicarem o POWER

  • Prepare o POWER antes: escreva seu propósito e outcomes em 2–3 frases.
  • Use linguagem simples, nada de jargões.
  • Conecte sempre com o contexto da organização (ex.: planos para o próximo ano, aprendizados recentes).
  • Mostre exemplos visuais (flipcharts, slides, templates).
  • Pratique a abertura: um facilitador ou líder confiante transmite segurança ao grupo.

Conclusão: abertura bem feita é meio caminho para o sucesso

A abertura é mais do que uma introdução protocolar. É um momento estratégico para criar intenção, engajamento e alinhamento.

A técnica POWER é um guia prático e eficaz que ajuda facilitadores a conduzirem aberturas memoráveis e produtivas. Ao integrar propósito, resultados claros, benefícios pessoais, engajamento e papéis definidos, você aumenta exponencialmente as chances de conversas que realmente transformam organizações.

Na próxima vez que for facilitar uma sessão, lembre-se: não subestime o poder da abertura. Ela pode ser o diferencial entre uma reunião esquecida e um encontro que gera impacto duradouro.

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