
Thomaz Ribas
Executar bem uma estratégia vai muito além de cumprir planos ou bater metas. A verdadeira execução é um equilíbrio entre disciplina e adaptação, agir com coerência diante da estratégia e ter coragem de ajustar o curso quando a realidade muda. Neste artigo, exploramos por que tantas empresas confundem execução com resultados, o que realmente diferencia uma boa execução e como isso se manifesta em setores como o financeiro e o de tecnologia.
A ilusão da execução como sinônimo de resultado
Quando uma empresa entrega bons números, é comum ouvir:
“Eles executaram bem.”
Mas será mesmo?
Talvez tenham apenas antecipado receitas, cortado custos essenciais ou empurrado problemas para o próximo trimestre.
O resultado pode parecer positivo, mas o que está por trás dele pode comprometer o futuro.
O erro está em confundir resultado com execução. Muitas organizações medem a execução olhando apenas para os números do trimestre, e não para a qualidade das decisões e comportamentos que levaram até lá.
Essa confusão leva a um ciclo perigoso:
“Como obtemos bons resultados? Executando.
Como sabemos que executamos bem? Pelos bons resultados.”
Esse pensamento circular é o que poderíamos chamar de síndrome do “mais força!”: quando os resultados pioram, a resposta é sempre trabalhar mais, pressionar mais, cobrar mais.
Acontece que mas mais vapor não conserta uma caldeira mal projetada.
O verdadeiro significado de execução
Executar bem não é apenas cumprir planos ou alcançar metas.
Executar bem é agir com coerência em relação à estratégia, mantendo disciplina e, ao mesmo tempo, flexibilidade para ajustar o curso quando a realidade muda.
É o equilíbrio entre consistência e adaptação: seguir o que foi combinado, mas ter coragem para mudar quando aquilo deixa de fazer sentido.
Em uma instituição financeira, por exemplo, a tentação de “forçar resultados” é grande. Um banco que decide aumentar sua base de clientes pode, em nome da execução, oferecer crédito sem avaliar riscos. Os números sobem no curto prazo, mas o que parecia boa execução se transforma em inadimplência meses depois.
Executar bem, nesse caso, seria manter a disciplina de seguir critérios de crédito sólidos mesmo sob pressão, preservando a sustentabilidade do negócio.
No setor de tecnologia, o oposto também acontece: startups que “pivotam” o tempo todo em nome da agilidade, mas perdem o rumo estratégico. A execução vira um caos de experimentos desconectados. A boa execução, nesse contexto, seria ter a coragem de segurar o foco, mantendo o rumo acordado até que dados reais indiquem uma mudança necessária.
Execução e estratégia são inseparáveis
Costuma-se dizer que “execução é mais importante que estratégia”. Mas essa comparação é falsa.
É como discutir se o carro é mais importante que o motorista. Sem direção, o carro não chega a lugar nenhum e sem movimento, o motorista não sai do lugar.
Estratégia e execução são partes de um mesmo sistema. Uma estratégia que ignora a capacidade da organização de agir com disciplina está condenada. E uma execução que ignora o propósito e as escolhas estratégicas está apenas girando no vazio.
A execução revela a cultura real da empresa
A forma como uma empresa executa é o retrato da sua cultura. Não a cultura que está nos murais, mas a que se manifesta no dia a dia (como as pessoas lidam com o erro e com a pressão).
Empresas que executam bem cultivam três hábitos fundamentais:
- Honestidade intelectual: encaram a realidade como ela é, sem autoengano.
- Disciplina de comportamento: fazem o que foi combinado, mesmo quando é desconfortável.
- Coragem adaptativa: mudam quando percebem que algo não faz mais sentido, sem apego ao plano original.
Esses hábitos não nascem de discursos inspiradores, mas da prática diária. Executar bem é, antes de tudo, um exercício de caráter coletivo.
O maior inimigo da execução: o sucesso aparente
Curiosamente, o maior perigo para a execução não é o fracasso, mas o sucesso. Resultados positivos criam euforia e levam líderes a acreditar que tudo está certo. É o que muitos chamam de doença da vitória: a crença de que o sucesso prova que a estratégia é boa.
Mas, na verdade, o sucesso aparente pode mascarar falhas graves. Bancos que expandiram rapidamente e depois enfrentaram crises, ou empresas de tecnologia que cresceram sem controle e depois precisaram demitir em massa, são exemplos clássicos.
O sucesso não é evidência de boa execução. É apenas um momento da história.
Executar bem é sustentar a coerência sob pressão
A verdadeira execução se prova quando as coisas ficam difíceis. Quando o mercado muda, quando a pressão aumenta, quando a tentação de atalhos aparece.
É fácil ser disciplinado em tempos tranquilos; o desafio é manter a coerência sob estresse, fadiga e incerteza.
Executar bem é continuar fazendo o que é certo, mesmo quando é impopular, mesmo quando dá medo. É agir com convicção em relação às escolhas estratégicas, mas com humildade para ajustá-las quando a realidade mostra que o caminho precisa mudar.
Conclusão: execução é pensar em movimento
Executar bem uma estratégia não é correr mais rápido, é pensar melhor enquanto se age. É transformar intenção em aprendizado contínuo. A execução não começa "depois da estratégia". Ela é a própria estratégia em movimento.
No fim das contas, a pergunta não é se sua organização está entregando resultados.
A pergunta é: você está entregando coerência?